ESTRATÉGIAS AO DISCIPULADO!

Há pelo menos três grandes áreas na Igreja que envolvem de certo modo o discipulado: (1) Discipulado Formal, (2) Discipulado Informal, e (3) Discipulado pessoal.

1.1 Discipulado Formal

No culto formal às quartas e domingos, podemos experimentar a união de toda a Igreja, com o propósito de louvar ao Senhor e receber o ensino da Palavra de Deus, o que podemos chamar de discipulado formal. O culto é o elo de todos nós. É essencial que o discípulo participe desta esfera da Igreja, pois ali participará da comunhão de todos, além de perceber todos os ministérios atuantes ou os líderes dos ministérios, bem como perceber as diferenças familiares, culturais, de liderança etc. Um discípulo “desigrejado”, não é nem discípulo nem cristão (Hb 10.25).

Entretanto, devido à grande aglutinação de pessoas, a mutualidade fica um pouco comprometida nesse contexto, pois as programações sucessivas e a pressa em sair da igreja para preparar almoço/jantar ou dormir por causa do trabalho na segunda-feira, impedem um aprofundamento maior na vida de cada um. Sendo assim, é extremamente importante o discipulado informal.

1.2 Discipulado informal

O discipulado informal concentra-se em poucas pessoas, um pequeno grupo. Assim como Jesus fez com o seu pequeno grupo de discípulos, o líder deve orientar/conduzir as pessoas a um comprometimento maior com a Palavra de Deus. Segundo Robert Coleman:

O modo espontâneo de Jesus dedicar sua vida àqueles que desejava treinar era impressionante. Também serve para ilustrar um princípio fundamental do ensino: o de que, em igualdade de condições, quanto mais concentrado e compacto for o grupo a ser orientado, maior o potencial para uma instrução eficaz.

Jesus dedicou parte considerável de seu tempo na Terra àqueles poucos discípulos. Ele empenhou todo seu ministério neles. O mundo poderia até demonstrar indiferença quanto ao Mestre, mas ainda assim sua estratégia seria vitoriosa. Por isso é que Jesus não ficou muito preocupado quando seus seguidores, no momento mais crucial, deixaram de ser leais a ele, ao confrontarem o verdadeiro significado do Reino (Jo 6:66). Mas ele não podia suportar a idéia de que seus discípulos mais chegados se desviassem do propósito maior. Era preciso que eles entendessem a verdade e por ela fossem santificados (Jo 17:17), caso contrário todo o restante iria por água abaixo. Foi assim que ele orou não “pelo mundo”, mas pelos poucos que Deus dera a ele, “pois são teus” (Jo 17:6,9).6 Tudo dependia da fidelidade aquele pequeno grupo: o mundo creria em Jesus “por meio da mensagem deles” (Jo 17:20).[1]

Os grupos pequenos (oração, koinonia, etc) tendem a suprir essa necessidade da Igreja, já que se voltam para a pessoalidade e a informalidade. O(s) líder(es) possui(em) a responsabilidade de cuidar do pequeno grupo, dando-lhe atenção, conselhos, incentivo, apoio, oração e tempo. Alguns, inclusive, pensam que “a única maneira de se pastorear uma igreja grande é através de pequenos grupos e de líderes que cooperem conosco nessa tarefa”[2]. Não acredito que seja a única forma de se liderar uma grande igreja, mas com certeza é uma excelente ferramenta.

Se nós temos um bom controle dos grupos aos quais as pessoas estão vinculadas de modo significativo, quando alguém precisa de assistência nós acionamos os líderes do seu grupo, célula ou ministério e apontamos aquela necessidade. E, então, as pessoas daquele grupo são mobilizadas para ‘chegar junto’[3]

Outro aspecto importantíssimo do grupo pequeno é a constante formação de novos líderes. Jesus enfatizou que os discípulos deveriam zelar pela multiplicação, ao ponto de produzirem novos discípulos aptos ao serviço do Senhor. “Os crentes no novo testamento eram não apenas rapidamente incorporados à igreja, mas também eram discipulados e treinados como líderes locais. A multiplicação de liderança local é proporcional à multiplicação das igrejas”[4].

Não acredito, porém, que os grupos pequenos sejam o “sonho de Deus”, o método divino, o ideal da igreja primitiva! A igreja, inaugurada em At 1, foi se desenvolvendo no decorrer dos anos. Ela não tinha templos próprios nem vaga na garagem, exceto os cristãos judeus que poderiam utilizar as sinagogas e o templo. Por isso, a igreja primitiva, principalmente gentílica, reunia-se nas casas, nada mais natural. Não havia quantidade mínima ou máxima de pessoas, estudos semanais impressos, vídeos motivadores ou treinamentos perfeitos, mas havia singeleza de coração, comunhão, perseverança na doutrina, desprendimento financeiro, adoração, santidade, evangelismo, disciplina. Qualquer igreja que perseverar nesses pontos será abençoada e abençoadora.

O grande foco do discipulado informal não são os métodos, mas as pessoas que já compreenderam a sua missão no mundo e a sua responsabilidade para com Deus. Essas pessoas, e não os grupos pequenos, conduzirão outras a serem discípulos de Cristo. Assim, os métodos tão em voga nos dias de hoje devem ser entendidos como métodos ou formas de trabalho num âmbito maior, não substituindo em importância os discípulos, os trabalhadores da seara. Com essa ressalva, posso afirmar que o grupo pequeno pode ser uma benção em nosso contexto, desde que não seja um fim em si mesmo, mas um meio de se buscar os princípios eternos de Deus.

1.3 Discipulado pessoal

“E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.20).

Quer algo mais pessoal do que esta promessa de Jesus? Às vezes somos tentados a crer que estamos sozinhos! Entretanto, não estamos desamparados, pois Cristo está conosco, ajudando-nos no ministério, assim como ajudou aos seus discípulos. E o ministério continua o mesmo: “vida na vida”. Sabemos que o Espírito Santo, a promessa de Cristo, veio sobre a Igreja, dando-nos poder para testemunhar e servir seja onde for (At 1.8). Por isso, não é a nossa capacitação, cultura, cursos e formação que nos capacita para exercer o ministério de Cristo, mas a vida dEle em nós!

Quanto mais próximos do Senhor, melhor será a nossa transmissão de vida a outros. Para transferir vida, portanto, é necessário ter vida! Sem a estreita comunhão com Cristo, faremos discípulos duas vezes piores do que nós. Alguns discipulados não dão certo pela ausência de vida do discipulador, pela ausência de exemplo e prática da palavra. Antes de discipular, em que área eu tenho que mudar?

Em relação a pessoalidade do discipulado, podemos identificar diferentes níveis de proximidade nas relações interpessoais de Cristo: (1) a multidão; (2) os 70 discípulos; (3) Os doze apóstolos; (4) Pedro, Tiago e João.

Jesus investiu tempo com a multidão, mas mais tempo com os 70 discípulos, e ainda mais com os doze discípulos mais próximos, os que foram escolhidos. Dentre os discípulos, Jesus escolheu Pedro, Tiago e João para se revelar de modo mais especial, como ocorreu no monte da transfiguração, por exemplo. Sempre haverá pessoas ao nosso lado, mas como devo priorizar minhas escolhas?

“Não podemos produzir discípulos em massa; em vez disso, temos que concentrar esforços em alguns poucos”[5]. Às vezes somos acometidos de um senso de poder e heroísmo, talvez um senso de onipotência. Achamos que tudo está ao nosso alcance! Pode até ser verdade para alguns poucos, mas, em relação ao discipulado, somente poderemos atingir/impactar poucas pessoas de cada vez. Avalie quanto tempo você tem por semana disponível para o discipulado, faça-o inegociável! A partir desse tempo, invista em poucas pessoas. Sabemos como a rotina moderna impede em muito o desejo de sermos úteis, porém não se deixe vencer pela comodidade e nem pelo ativismo, concentre-se em poucos de cada vez.

O que fazer, uma vez discipulando? Não é necessário pensar em algo impossível, estudos mirabolantes ou atividades caras, mas pense em orar e ler a Bíblia juntos, talvez usar um material próprio de discipulado. Também vocês possam ainda fazer algumas atividades diferentes, por exemplo: conheci um grupo de discipulado que decidiu viajar no final do ano, com consentimento dos pais, para a praia (ou outro lugar, não lembro ao certo). Por esse motivo, todos do grupo trabalharam arduamente, vendendo bolinhos e cookies para conseguirem o dinheiro. Não só a experiência da viagem, mas a experiência do discipulado marcou a vida desses meninos. Hoje são jovens e não consigo lembrar de nenhum que tenha se desviado dos caminhos do Senhor. Esse grupo era composto de um líder homem mais oito adolescentes homens. O discipulado pessoal tem esse cuidado: pessoas do mesmo sexo, para que não haja possibilidades e envolvimentos enganosos.

Vale lembrar que o discipulado não tem qualquer prerrogativa de superioridade, mas de humildade. Se alguém ajuda uma pessoa a atravessar a rua, faz-se superior? De modo algum, pois deixou seu tempo e liberdade para servir ao próximo. E se a pessoa não quiser ajuda para atravessar a rua? Não há mais sentido o discipulado! Pois não estamos “catequisando” ninguém, como se fosse uma escola, mas estamos num processo de transmissão de vida (Jo 6.69). É interessante que o próprio Jesus não matriculou seus discípulos numa escola teológica ou num cursinho, mas colocou-os com Ele, para que pudessem não somente compreender pela fala o ensino, mas pelo exemplo.

Os discípulos viam o procedimento de Jesus no dia a dia (“Um sermão vivo vale cem explicações”[6]), e compreendiam a formação pessoal que lhes era passada (Mc 1.17). Jesus afirmou que faria dos seus servos “pescadores de homens”, ou seja, Jesus não apenas explicaria como fazer, mas faria com eles até que pudessem fazer sozinhos. Já que há um propósito claro no discipulado, é fundamental a responsabilidade e santidade tanto do discípulo como do discipulador. Caso não haja nem responsabilidade nem santidade (Lc 16.13), convém interromper esse processo formal, uma vez que não surtirá o efeito desejado.

Ninguém é obrigado a ser um discípulo, mas uma vez desejoso, deve comprometer-se em atentar ao que o discipulador transmite, e ser aberto para confrontar em sua própria vida o que lhe foi passado. Muitos discípulos de Cristo o abandonaram (Jo 6.66), não mais se associando com ele depois de algumas palavras “duras”. Existe um preço proveniente do discipulado, que é o viver segundo Cristo, de acordo com o preço do evangelho. Esse é o alvo! Sem santidade e responsabilidade não há discipulado. Pergunte-se: o discípulo é responsável? O discípulo é ensinável? O discípulo é aberto? O discípulo está disposto a pagar o preço do evangelho? Caso sim, invista tempo e lágrimas. Caso não, ore a Deus para que a pessoa seja abençoada, talvez por outro discipulador ou em outro momento.

Deveríamos indagar por que há tantos crentes professos hoje em dia, atrofiados em seu crescimento espiritual e ineficazes em seu testemunho cristão. Ou, situando essa pergunta em seu contexto mais amplo, por que motivo é que a Igreja contemporânea anda tão frustrada em seu testemunho ao mundo. Não se deve isso ao fato de que, tanto entre o clero quanto entre os leigos, há uma indiferença geral para com os mandamentos de Deus; ou pelo menos, uma espécie de complacência satisfeita com a mediocridade? Onde está a obediência da cruz? Realmente, ate parece que os ensinos de Cristo sobre a abnegação e sobre a dedicação foram substituídos por uma modalidade de filosofia de expedientes, que afirma: “Que cada qual faça conforme queira”[7].

Será que é necessário mesmo o discipulado pessoal? Vejamos alguns textos que afirmam expressamente essa necessidade de ajuda mútua: Ef 5.19-21; Rm 14.13; 15.7; Cl 3.13,16; I Ts 5.11; Hb 3.13; 10.24-25; Gl 5.13; 6.2. Desses textos podemos depreender a nossa responsabilidade para com o próximo: “levar as cargas”, “exortar”, “amar”, “servir”, “adorar a Deus juntos” etc. Certamente nós temos muitas responsabilidades e também o privilégio de sermos agentes de Deus neste mundo, obedecendo ao próprio Cristo, de quem recebemos a ordem de: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Quais são os alvos do discipulado pessoal? Em relação ao novo crente desejamos que compreenda as verdades básicas do evangelho e viva-as, como por exemplo:

a)      Salvaçãob)      Transformação em Cristo

c)      Tentação

d)      Devocional

e)      Batismo

f)       Evangelismo

g)      Amizades

h)      Decisões

i)        Memorização de versículosj)        Mordomia

k)      Influência

l)        Prioridades

m)    Vontade de Deus

n)      Estudo das Escrituras

o)      Comunhão com a Igreja

p)      Discipulado

Em relação ao convertido há algum tempo, desejamos que ele compreenda:

a)      Serviço cristão/ministérios d)   Como liderar
b)      Como discipular e)   Utilizando meus dons e talentos
c)      Santidade f)   Vida com Deus/treinamentos

Em relação ao acompanhamento de líderes, faz-se necessário uma prestação de contas constante, não somente do serviço ministerial mas também da vida cristã, característica de um servo do Senhor. O acompanhamento contribuirá na santidade dos líderes e na eficiência deles.

Algumas sugestões de literatura para o discipulado pessoal:

  • “Estudos de João I e II”, da Junta de Missões Nacionais
  • “E agora, o que fazer?”, da Organização Palavra da Vida Sudeste
  • “O que Jesus deseja que eu faça?”, da Junta de Missões Nacionais

Quanto aos livros que retratam especialmente do discipulado, marquei-os em negrito:

BIBLIOGRAFIA:

AMORESE, Rubens. Fábrica de Missionários: nem leigos, nem santos. MG: Ultimato, 2008.

ARAGÃO. Humberto Maia. O líder cristão e sua identidade cultural. Ed: Descoberta, 1999.

Clubes Bíblicos. Manual do Líder.

COLEMAN, Robert E. O plano mestre de evangelismo. e_book: Mundo Cristão, 2006.

DEVER, Mark. O que é uma igreja saudável? SP: FIEL, 2009.

FERREIRA, Franklin & MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. SP: Vida Nova, 2007.

KUHNE, Gary W. O discipulado dinâmico: como ajudar o convertido a crescer, a alcançar outros e a se integrar na vida da igreja. (1°ed 1979) 1982: Betânia.

LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas. SP: Cultura Cristã, 2007.

MOREIRA, Mauro Israel. Chega junto: assistência pessoal na dinâmica de vida da Igreja. RJ: Horizontal, 1997.

SHAW, Mark. Lições de Mestre: 10 insights para a edificação da igreja local. SP: Mundo Cristão, 2004.

[1] COLEMAN, 2006, pg.20

[2] MOREIRA, 1997, pg.42

[3] Ibid, pg.43

[4] LIDÓRIO, 2007, pg.87

[5] KUHNE, 1982, pg.40.

[6] COLEMAN, 2006, pg.33

[7] COLEMAN, 2006, pg.52-53


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