Feminilidade Cristã

por Hannah Motta

Você gosta de teatro? Já assistiu ou participou de alguma peça? Imagine, então, uma em que os atores não gostam do diretor. Não só não gostam dele, mas o odeiam, e resolvem boicotar o seu trabalho. Passam então a pular ou reinventar falas, atuar fora de hora, trocar de papeis e figurinos. Você acha que o resultado seria bom? Passaria alguma mensagem ou seria uma completa confusão?

            Esta cena descrita por Joshua Harris[1] é um bom retrato da nossa sociedade atual, inimiga de Deus e revoltada com os papeis que Ele estabeleceu tanto para homens quanto para mulheres. Se você, no entanto, foi um dia salva por Jesus Cristo, não está mais em rebeldia para com esse “diretor”, mas O ama, e decidiu viver de acordo com o Seu grande plano artístico. Isso, porém, não torna as coisas completamente fáceis. Ainda há atores no elenco que te instigam ao boicote, e ainda há partes do roteiro que você não entende muito bem.

            Mas é neste ponto que a Palavra de Deus vem para dar esperança, e é a partir dela que queremos estabelecer aqui alguns princípios para que você desempenhe da forma mais bela possível o seu papel como mulher criada por Deus. Antes de tudo, vamos tratar de dois pressupostos, duas ideias-base que vão sustentar e orientar toda a discussão.

1- Não te cabe gostar ou não

            Desculpe, eu sei, já doeu de cara. Mas é bem isso mesmo. Quando se trata de vontade de Deus, não te cabe concordar ou não, te cabe apenas crer, confiar e se transformar. A Bíblia diz que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita, mas que só podemos experimentá-la desse jeito a partir de uma transformação de mente: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm. 12:2).

            Precisamos, antes de qualquer coisa, confiar no Deus que nos salvou. Crer que Ele é bom e que nos dá coisas boas (Hb. 11.6). Crer que Ele é capaz de fazer coisas muito maiores do que o que podemos imaginar (Ef. 2.10). Crer que Ele tem bom gosto, e que sabe o que é bom pra nós! Crer que tudo é dele, e que Ele tem todo direito de orientar e dirigir a Sua criação (Sl. 24.1). Crer que a Palavra dele é a Verdade (Jo. 17.17), e decidir viver por ela, não pelos pensamentos que nos enganam.

2- Somos todos criados à imagem de Deus

            Para compensar, taí um que não dói. Na verdade, esse nos enche de encanto! A Bíblia diz que homens e mulheres possuem uma origem comum, uma mesma essência e um mesmo objetivo. Tanto homem quanto mulher foram criados como imagem de Deus: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn. 1.27). Somos um retrato, uma figura ambulante do próprio Criador soberano. Nosso valor é igual e intrínseco, porque originados do mesmo molde. Nossa tarefa é comum: dominar e encher a terra (Gn. 1.28); nosso objetivo é o mesmo: as boas obras (Ef. 2.10).

            Entretanto, o texto é claro também em mostrar a nossa diversidade: “homem e mulher os criou”. Deus fez dois seres diferentes! Temos o mesmo valor, mas características distintas. Deus é tão rico de beleza e personalidade que resolveu retratar-se em dois quadros distintos, porém igualmente encantadores, porque são imagem da mesma paisagem – a Sua glória. É exatamente como se “mulher” fosse uma figura de Deus em certas cores, enquanto “homem”, em outras cores. A paisagem é a mesma, a abordagem é distinta. A beleza e o preço são idênticos, mas a expressão se diferencia. Deus não é artista de mesmice. Ele gosta de esbanjar criatividade!

            Assim, consoladas e orientadas por esses pressupostos, nos resta saber como desempenhar o papel que Deus nos entregou como mulheres. Quais as cores do nosso quadro, e como admirá-las e mantê-las vivas e brilhantes, como um retrato digno da glória de Deus. Mas antes disso, queria te fazer imaginar mais uma cena. Imagine que um ET (sim, um extraterrestre) aparecesse na Terra e você tivesse que apresentar o nosso mundo a ele. Explicar como tudo funciona, o que é o quê, e quem é quem. Ele fala português fluente, mas não tem uma tecnologia tão avançada quanto você imaginava. São só vocês dois conversando quando ele te pergunta o que é “uma mulher”.

            O que você responderia? Um ser humano com cabelo grande? Não. Existem mulheres com cabelos curtos e homens com cabelos longos. Um ser humano com mais curvas! Não, existem mulheres com poucas curvas, e homens com silicone hoje em dia… (Órgãos sexuais e cromossomos também não vão ajudar, porque o ET precisa saber identificar no dia-a-dia, sem despir e examinar ninguém.) Então… roupas! Também não vão funcionar para muita coisa, com tantas culturas e modismos diferentes ao redor do planeta. Bem, você percebeu a dificuldade? Ainda mais numa sociedade pós-moderna, em que não há padrões absolutos para quase nada, fica difícil estabelecer a distinção. Aliás, o mundo faz assim[2]:

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            Esclareceu ou confundiu? O que falar para o ET? Sim, o mundo em rebeldia contra Deus e seus padrões resolveu retirá-lo da jogada, e perdeu com isso conceitos objetivos e verdades claras. Hoje “mulher” é quem se acha mulher – seja lá o que isso signifique, já que “mulher” não precisa ser feminina, nem se vestir ou agir de nenhum modo previamente estabelecido. Percebe como caminhamos para uma total destruição das diferenças? Para o caos daquela peça de teatro sem direção? Para não passarmos mensagem alguma e não sermos ninguém?

            Pois bem, cremos num Deus capaz de nos dar conceitos e verdades distintivas, num mundo sem capacidade de discernir. Até porque, ninguém melhor que o inventor para descrever o melhor aproveitamento e o valor de sua criação. Cremos, assim, que esses conceitos que diferenciam homens e mulheres podem ser observados na criação e extraídos da Palavra de Deus. Quer ver?

 

CAPACIDADES E DESEJOS DISTINTOS QUE SE NOTAM NA CRIAÇÃO

            Homens e mulheres são notadamente diferentes no corpo, no cérebro, e nas interações sociais. Por mais que se tente apagar isso nos dias de hoje, tanto as pesquisas científicas e quanto a mera observação cotidiana apontam para este fato. Deus nos criou diferentes, e as diferenças vão além daquelas que todo mundo sabe que identificam os meninos e as meninas no nascimento. 😉

            O corpo de homens e mulheres é mais diferente do que você imagina[3]. Mulheres são, em regra, 10 a 15% mais baixas que os homens, possuem ossos 25% mais leves, menos massa muscular, e 10% a mais de gordura. Homens tem as extremidades mais longas, centro de gravidade mais distribuído, coração maior. Isso tudo implica em maior força, velocidade e capacidade respiratória para homens, e maior flexibilidade e flutuabilidade para mulheres. Homens possuem melhores capacidades em mobilidade bruta (corrida, força), e mulheres em mobilidade fina (movimentos leves, precisos, destreza). Homens possuem melhor visão à distância, melhor visão focada em ambiente de luz. Mulheres possuem maior campo visual (abrangência da visão panorâmica), enxergam mais cores e têm audição e olfato mais desenvolvidos.

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            Não é à toa que homens e mulheres competem separadamente em modalidades esportivas. Não é surpresa que com todas essas diferenças fisiológicas, os homens alcancem os maiores recordes em competições como corrida, arremesso de peso e tiro ao alvo, e as mulheres se destaquem em nado sincronizado, patinação e ginástica artística. Também não surpreende que no dia-a-dia, as mulheres geralmente entendam melhor de moda e decoração, sejam mais delicadas com objetos frágeis e se preocupem mais com asseio do que eles. Mas as distinções não param por aí.

            O cérebro humano também se diferencia quando o assunto é gênero. Embora o assunto ainda seja bastante discutido no campo acadêmico, pesquisas recentes demonstram o que, há séculos, a boa observação cotidiana pôde captar em diversas culturas: nós pensamos de maneiras diferentes.

            Segundo recente estudo realizado com 521 mulheres e 428 homens entre 9 e 22 anos, e publicado pela Universidade de Pensilvânia[4], nos Estados Unidos, os cérebros de homens e mulheres possuem diferentes formas de processar informações, implicando em diferentes habilidades para cada sexo humano. Enquanto homens possuem um “cérebro sistemático”, com fluxo de sinapses concentrado por hemisfério, mulheres possuem um “cérebro interconectado”, com fluxo de informação entre os dois hemisférios. Na imagem abaixo, captada a atividade cerebral de um homem (azul) e de uma mulher (laranja).

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            Essas características levam homens a apresentarem uma vantagem maior no que se trata de tarefas motoras e orientação espacial, e mulheres no que se trata de memória e sociabilidade. Eles são, em regra, melhores que nós em matemática, inteligência espacial e cinestésica; enquanto nós, em regra, somos melhores nas artes e nas relações intra e interpessoais. Nas palavras do pesquisador Tagini Verma, “cérebros masculinos são estruturados para facilitar a conectividade entre ação coordenada e percepção, enquanto cérebros femininos são projetados para facilitar a comunicação entre os modos de processamento intuitivo e analítico”. A imagem ilustra melhor isso: [5]

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            A habilidade sistemática masculina faz com que eles sejam melhores em aprender e executar apenas uma tarefa por vez e possuam melhor ação coordenada e percepção. Sua visão focada e vantagem motora permitem também que se envolvam mais do as que mulheres em situações de risco. Já as mulheres são mais capazes no exercício de múltiplas tarefas, devido à sua maior memória e interação interpessoal. Mulheres captam melhor as emoções alheias, tem intuição mais acurada, maior compreensão analítica e se expressam melhor.[6]

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            Quem já tentou (sem muito sucesso) conversar com um homem enquanto ele assistia ao futebol, consertava o carro ou lavava a louça? Também não é novidade que os seguros de automóveis sejam mais caros para eles, que, comprovadamente, se envolvem em mais acidentes. Homens também cometem mais crimes (eles representam mais de 90% da população carcerária brasileira[7]), e, nessa área, enquanto sua participação se destaca dentre aqueles que envolvem força e violência, as mulheres cometem muito mais crimes passionais analiticamente planejados.[8] Por outro lado, mulheres se dão melhor com pessoas e conseguem compreendê-las bem, além de ver várias nuances de uma mesma situação ou problema. Muitas vezes, até no lazer essas diferenças são perceptíveis: enquanto um fim de semana divertido pra você provavelmente envolva algum tipo de interação com as pessoas que você gosta (fazendo o quê é um detalhe), o de um rapaz provavelmente envolve uma atividade prática que ele aprecie, de preferência uma com objetivos claros, como: jogar futebol, pescar e jogar videogame (com quem é um detalhe).

            É claro que essas generalizações não ditam regras sobre o que você deve ou não fazer na faculdade, ou sobre comportamento de forma geral. Você não é “menos mulher” se gosta de matemática, sabe se localizar espacialmente ou se joga futebol. As pesquisas mostram apenas tendências comuns de gênero, apontando para construções biológicas distintas. Haverá sempre diversas exceções. O interessante, no entanto, é ver, num plano geral, como efetivamente somos por natureza diferentes.

            Mas ok, se você ainda está desconfiada, leia aqui a interessante entrevista do professor José Salomão Schwartzman (neuropediatra, não-cristão, formado na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, e professor titular de pós-graduação em Distúrbio do Desenvolvimento na Faculdade Presbiteriana Mackenzie). Ele aponta exemplos bem claros de tudo isso, inclusive atacando a tese “cultural” – de que o machismo e o patriarcado seriam os grandes responsáveis por criar preferências de comportamento entre gêneros. Ou então, assista aqui ao excelente documentário[9] produzido na Noruega, um dos países mais igualitários do mundo, apontando diversos estudos de diferentes países confirmando a influência biológica nas diferenças de aptidões e interesses de gênero. O documentário começou a ser produzido exatamente porque, naquele país de tanta liberdade, mulheres continuavam escolhendo profissões tipicamente “femininas” (relacionadas a cuidado e interação interpessoal), e homens, ocupações tipicamente “masculinas” (ligadas a técnica e força física).

            Todos estes pesquisadores só diferem do nosso posicionamento no que tange à origem das diferenças: apontam evolução e seleção natural como tendo privilegiado homens e mulheres em determinadas atividades. Nós vamos pelo caminho oposto, afirmando que homens e mulheres, foram criados essencialmente diferentes, e por isso se identificaram (e até hoje se identificam) em diferentes escalas com diferentes atividades.

            Outro lembrete essencial neste ponto, é o de que nada do que é apresentado aqui aponta um gênero como “melhor” ou “mais inteligente” que o outro. Simplesmente demonstra o quanto somos diferentes e complementares. Até o desenho das nossas sinapses prova isso. Precisamos um do outro. Nas palavras de mais um não-cristão, “diferenças anatômicas e fisiológicas não significam inferioridade ou superioridade dos sexos, mas uma distribuição de tarefas específicas determinadas pela natureza a fim de assegurar a manutenção da espécie” [10]. Cabe dizer – quem é crente logo vê “Deus” onde se fala em “natureza”! Assim, como já falamos sobre intelectualidade, vamos aos exemplos de comportamento.

            Você já reparou como, no dia-a-dia, homens se identificam pelo que fazem, e mulheres pelas suas relações interpessoais? Boa tarde, meu nome é João, sou advogado. Boa tarde, meu nome é Joana, sou a esposa do João/ a vizinha da Maria/ a mãe do Paulinho. Não somente as capacidades mas também os desejos profundos e inatos de homens e mulheres parecem indicar um ponto comum: homens foram chamados para o campo (ou para o trabalho), e mulheres foram chamadas para a família.

            Mas, calma. Antes de gritar “patriarcado!” (por favor, assista ao documentário norueguês) e dizer que tudo isso não passa de estereótipo cultural, tente observar comigo alguns fatos do dia-a-dia e pense nos seus amigos, parentes, namorado, marido. Ainda não demos o veredito final (quem dá é a Palavra de Deus), mas relembre os nossos pressupostos, e tenha força! O que Deus tem para nós é sempre bem melhor do que o que imaginamos, ou até do que o que dizem por aí.

            No livro Amor & Respeito[11], Emmerson Eggrichs faz um quadro com as características da personalidade de cada gênero, buscando ajudar maridos a entenderem suas esposas e vice versa. Vamos mencionar aqui, bem resumidamente, algumas das conclusões que ele apresenta que servem não apenas para casais, mas também para interações entre homens e mulheres de uma forma geral.

            O autor afirma que mulheres desejam conexão, abertura, simpatia, apaziguamento, dedicação e apreço. Essas são as formas pelas quais se expressam, e também as formas pelas quais desejam ser correspondidas. O autor aponta a conexão pelo ímpeto feminino tão comum de dar as mãos, olhar nos olhos, abraçar, sentir-se ligada (mesmo que você não seja do tipo super carinhosa, é capaz de reconhecer que nas amizades entre mulheres essas demonstrações físicas são muito mais comuns do que nas amizades entre homens); a abertura, pela sua maior capacidade e disposição de comunicar-se, inclusive sobre questões mais íntimas; a simpatia, pela capacidade de identificar-se com o outro, sentir a dor e a alegria alheias, compreender e aceitar; o apaziguamento, pela iniciativa comum de discutir e resolver problemas interpessoais; a dedicação, pela lealdade que lhe é inerente (é sabidamente muito mais comum, por exemplo, mulheres acompanhando ou visitando seus companheiros doentes ou presos, do que homens fazendo o mesmo); o apreço, pela capacidade e alegria em demonstrar respeito, honra e carinho, lembrando-se de eventos marcantes, motivando verbalmente etc. (Quantas vezes você já escreveu uma cartinha a uma amiga? Ou surpreendeu alguém num aniversário? É bem mais difícil ver homens fazerem o mesmo).

            No entanto, toda a beleza da feminilidade não quer dizer que os homens sejam frios ou duros, mas simplesmente que se expressam de maneira diferente. O autor descreve seus pontos fortes como conquista, autoridade, sexualidade, afinidade e discernimento. A conquista seria expressa pelo ímpeto masculino de vencer desafios, trabalhar, realizar, enfrentar riscos – enquanto mulheres costumam ver o trabalho como liberdade de escolha e realização pessoal, os homens o veem como algo que define sua própria identidade pessoal; autoridade se refere ao desejo e iniciativa por liderar e guiar; sexualidade, à tendência de pensar, iniciar investidas e afirmar-se nessa área mais constantemente que mulheres; afinidade, pelo interesse em atividades “ombro a ombro”, em fazer coisas juntos, partilhar experiências (enquanto mulheres apreciam uma boa conversa com olhos nos olhos, homens estreitam laços através de atividades em comum, feitas lado a lado, em companheirismo, mesmo que com pouca conversa); discernimento, pela capacidade de julgar com objetividade e desejo de orientar decisões e solucionar dilemas.

            Se você olhar com calma, vai perceber que todas as características citadas estão presentes em ambos os sexos, são capacidades e inclinações humanas comuns. Mas se olhar com ainda mais calma, vai observar que homens e mulheres, de fato, se destacam mais em umas do que em outras (o que muitas vezes gera tantos conflitos e dificuldades de comunicação…). Cremos que nada disso é ocasional ou cultural, mas fruto de uma intenção divina desde a criação.

            Não sabemos ao certo porque Deus estabeleceu certos papeis e características preponderantes para cada gênero, mas sabemos para que: para a sua Glória – para que Sua beleza fosse ainda mais evidente e rica, expressa por diferentes nuances. Deste modo, a ideia de que o homem foi “chamado para o campo” e a mulher “chamada para a família”, não nos é estranha, nem nos aterroriza. Quando Deus criou Adão, deu a ele um trabalho (Gn. 2.15), antes de lhe dar uma família. Deu-lhe também uma ordem, uma responsabilidade: não comer do fruto de certa árvore (Gn. 2.16,17). Mais tarde, quando criou Eva, logo apresentou-lhe ao seu marido (Gn. 2.22) para – junto dele – dar-lhe uma tarefa: multiplicar-se, encher a Terra e administrá-la (Gn. 1.27,28). O objetivo da criação de Eva foi também expresso em Gn. 2.18: ser alguém correspondente ao homem, uma companheira, um auxílio na grande tarefa de dominar a Terra. Contudo, a responsabilidade da liderança sempre foi dele – tanto é assim que, ao pecarem, só viram que estavam nus e se envergonharem após Adão comer do fruto (Gn. 3.6,7), e quando Deus buscou alguém para prestar contas, chamou por Adão, a quem dera a ordem (Gn. 3.9). Mas há mais que falar sobre isso, e Deus nos deu sua Palavra com tal objetivo.

CAPACIDADES, DESEJOS E PAPEIS DISTINTOS QUE SE EXTRAEM DA PALAVRA

            Observamos ciência e dia-a-dia. Corpo, cérebro, interações sociais. Refletimos sobre pressupostos básicos e também algumas “dicas” dadas por Deus em sua criação. No entanto, embora a criação revele a glória dele (Sl. 19.1), algo que a teologia chama de “revelação geral” (a natureza aponta quem Deus é), a Bíblia é o que chamamos de “revelação específica” (Deus falando quem Ele é). Por isso ela é que, com autoridade, detalha o que Deus estabelece para nós, também em termos de gênero e feminilidade.

            Embora tenha sido escrita por homens falhos e pecadores, cremos que foi inspirada, dirigida e resguardada ao longo do tempo pelo Espírito Santo de Deus (2 Tm. 3.16,17) e isso faz dela imutável, sempre atual e livre de modismos ou preconceitos humanos. Embora tenha sido escrita num determinado contexto cultural (na verdade, a Bíblia inteira gastou quase 1600 anos para ser escrita, por meio de cerca de 40 autores de variadas origens e contextos sociais[12]), ela se aplica até hoje com precisão e perfeição, dando respostas divinas a problemas humanos. Nessa linha, se temos qualquer dúvida sobre o Deus quer de nós como mulheres, o caminho mais certo é buscar a sua orientação na Palavra, e é isso que faremos.

            Já falamos sobre Gênesis e a criação. Vamos estudar agora mais três passagens apenas, que consideramos como centrais no que se refere ao papel estabelecido para a mulher por Deus. O primeiro é bem conhecido, e já quebra muitos preconceitos. Vamos transcrevê-lo aqui:

 Provérbios 31

10 Uma esposa exemplar; feliz quem a encontrar! É muito mais valiosa que os rubis. 11 Seu marido tem plena confiança nela e nunca lhe falta coisa alguma. 12 Ela só lhe faz o bem, e nunca o mal, todos os dias da sua vida. 

13 Escolhe a lã e o linho e com prazer trabalha com as mãos. 14 Como os navios mercantes, ela traz de longe as suas provisões. 15 Antes de clarear o dia ela se levanta, prepara comida para todos os de casa, e dá tarefas as suas servas. 16 Ela avalia um campo e o compra; com o que ganha planta uma vinha. 17 Entrega-se com vontade ao seu trabalho; seus braços são fortes e vigorosos. 18 Administra bem o seu comércio lucrativo, e a sua lâmpada fica acesa durante a noite. 19 Nas mãos segura o fuso e com os dedos pega a roca. 20 Acolhe os necessitados e estende as mãos aos pobres. 21 Não receia a neve por seus familiares, pois todos eles vestem agasalhos. 22 Faz cobertas para a sua cama; veste-se de linho fino e de púrpura.

23 Seu marido é respeitado na porta da cidade, onde toma assento entre as autoridades da sua terra. 24 Ela faz vestes de linho e as vende, e fornece cintos aos comerciantes. 25 Reveste-se de força e dignidade; sorri diante do futuro. 26 Fala com sabedoria e ensina com amor. 27 Cuida dos negócios de sua casa e não dá lugar à preguiça. 28 Seus filhos se levantam e a elogiam; seu marido também a elogia, dizendo: 29 “Muitas mulheres são exemplares, mas você a todas supera”. 

30 A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada. 31 Que ela receba a recompensa merecida, e as suas obras sejam elogiadas à porta da cidade.

                  Esse texto é da autoria de uma mulher (mãe do Rei Lemuel – Pv. 31.1), ensinando seu filho a escolher uma esposa. Ele representa o ideal bíblico para uma mulher, características daquela que pode ser chamada de “virtuosa”. Essas virtudes têm a ver com caráter, relacionamentos e atividades do dia-a-dia, e se você leu com atenção, percebeu que a mulher que a Bíblia aclama: teme ao Senhor (v. 30), é confiante e otimista (v. 25), é sábia e ensina com amor (v. 26), é forte e trabalhadora (v.17), não é preguiçosa (vv. 18, 27), tem uma profissão e trabalha com as mãos (vv. 13,19), negocia e investe (vv. 16, 24), prepara comida e organiza a casa (v. 15), ajuda os pobres (v. 20), veste-se bem e decora a casa (v.22), tem um marido respeitado e amado, que a ama e elogia publicamente (vv. 11, 12, 23, 28), tem filhos que a admiram e elogiam (vv. 28,29).

            Enxergou uma mulher pós-moderna? Pois é. Desde a antiguidade, a Bíblia não desprestigia ou condena mulheres que trabalham fora. Há vários exemplos nas escrituras de mulheres exemplares exercendo diversas profissões. A mulher desse texto específico entende de economia, moda, pedagogia, gastronomia, administração e trabalho braçal. Acorda muito cedo e dorme tarde. Mas o que faz dela “poderosa” e elogiada por todos não é o que ela faz, mas para quem o faz: o cerne do texto é o amor que ela tem por Deus, por sua família e até pelos pobres. A essência do texto é um caráter amoroso, gentil e generoso de quem ama e teme a Deus acima de todas as coisas.

            Por algum motivo, Deus criou a mulher com maior sensibilidade relacional. Isso não faz dela fraca nem limitada – como apregoa o mundo moderno – isso faz dela uma arma poderosa na gestão e cuidado de uma família, e também na atenção aos marginalizados. Também o livro de Provérbios afirma que a mulher é capaz de edificar ou destruir uma casa (Pv. 14.1). Nosso poder de influência e dedicação pode muito pela humanidade, mas Deus nos deu um plano de ação, prioridades na gestão. A mulher de Provérbios 31 fazia o que fazia não para si mesma, para sua “auto realização”, “independência”, ou mesmo para provar algo para o mundo. Fazia para servir. Por amor a Deus, à sua família e aos necessitados. Eles eram as suas prioridades.

            No Novo Testamento, as cartas de Tito e Pedro também dão claras diretrizes sobre o papel da mulher e a essência da feminilidade como estabelecida por Deus:

Tito 2. 1-5

Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina. Ensine os homens mais velhos a serem sóbrios, dignos de respeito, sensatos, e sadios na fé, no amor e na perseverança.

Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de ensinar o que é bom.

 Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada.

 

1 Pedro 3. 1-6

Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos, a fim de que, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês.

A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, o que é de grande valor para Deus.

Pois era assim que também costumavam adornar-se as santas mulheres do passado, que colocavam a sua esperança em Deus. Elas se sujeitavam a seus maridos, como Sara, que obedecia a Abraão e lhe chamava senhor. Dela vocês serão filhas, se praticarem o bem e não derem lugar ao medo.

            Que princípios podemos extrair de tais textos? Mais uma vez observamos referências a caráter, relacionamentos e atividades do dia-a-dia. Em Tito, as mulheres devem ser marcadas por moderação, prudência, pureza e bondade. Devem amar seus maridos e filhos, sendo submissas aos primeiros. Quanto ao mais, devem estar envolvidas no ensino de outras mulheres e ser boas e diligentes donas de casa. Em Pedro, mais uma vez, devem demonstrar um caráter exemplar; ser honestas, respeitosas, modestas, dóceis e tranquilas e submeter-se a seus maridos.

            Ora, se a mulher tem “9 inteligências”, todas ligadas a emoção, linguagem e comunicação, quem você acha que se destaca no cuidado e ensino de pessoas? Especialmente pessoas extremamente dependentes, como filhos pequenos? Quem seria melhor para motivar, fomentar, influenciar e apoiar decisões e ideias? Se a mulher tem capacidade de desenvolver múltiplas tarefas, tem audição, olfato, campo visual e destreza fina superiores, quem você acha que faria um melhor trabalho e gestão doméstica? Por outro lado, se homens são superiores em pensamento abstrato, objetividade, força, foco e assumir riscos, quem conseguiria mais facilmente tomar decisões difíceis em meio ao caos, resistir oposições, defender posições, guiar e prover subsistência?

            Não se trata de estereótipo, se trata de estratégia. Estratégia divina. Deus criou homens e mulheres para complementariedade, auxílio-mútuo, cooperação para um fim maior: a manifestação da sua própria glória na Terra. Isso fica claro no casamento explicado pelo Apóstolo Paulo em Efésios 5.22-33. Enquanto homens exercem o que chamamos de liderança servil – uma liderança não baseada em força, imposição ou abuso, mas em responsabilidade, amor e coragem para sacrificar-se pelo outro, à luz do que Cristo fez por aqueles que salvou – a mulher exerce a submissão amorosa, não baseada em fraqueza ou humilhação, mas em amor, paciência, mansidão, apreço e confiança total naquele que se comprometeu a guia-la – como fazem os salvos no que se refere a Cristo.

            Interessante também notar que, em Pedro, o texto prossegue da seguinte forma: Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações. Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos, amem-se fraternalmente, sejam misericordiosos e humildes. Não retribuam mal com mal nem insulto com insulto; pelo contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados, para receberem bênção por herança. 1 Pedro 3:7-9.

            Mais uma vez a Palavra reafirma a igualdade de valor entre homens e mulheres pela expressão “co-herdeiras do dom da graça”. Herdeiras junto, assim como. A Palavra ordena aos homens, dotados com maior força física e menos sensibilidade, que tratem as mulheres com honra e como parte mais frágil, não porque sejam frágeis, mas porque são co-herdeiras; e os homens não devem esquecer-se disso ao liderar – até porque, a pena é grave: serem interrompidas as suas orações. É interessante traçar um paralelo com uma outra vez em que Deus ameaça não ouvir orações: o caso daquele que busca o perdão divino sem ter perdoado seu irmão (Mt. 6.15). Isso é bem simbólico. O homem, no casamento, exerce o papel de Deus para com a Igreja. Se ele recusa tratar com graça e cuidado a sua esposa, que em verdade lhe é uma igual, uma co-herdeira, também Deus fará o mesmo.

            Ora, um Deus assim não tem nada de machista. Mulheres são vistas em alta conta na Bíblia. Como já dissemos e ainda reforçamos: papeis não definem valor ou competência, apenas definem uma estratégia para maior eficiência e beleza no todo. Prova disso é que o próprio Deus, muitas vezes, se apresenta para a humanidade como exercendo funções tipicamente femininas:

Em Isaías 66.13 e 31.5 Deus se compara a uma mãe que consola e protege;

Em Êxodo 18.4, Deuteronômio 33.29 e Oseias 13.9, Ele usa o mesmo termo da criação da mulher para se apresentar como “ajudador”, aquele que auxilia;

Em Salmos 147.9, Ele é aquele que nutre e alimenta;

Em Provérbios 8, a própria sabedoria divina é representada como uma mulher.

            Não bastasse, o papel de Jesus Cristo na encarnação prova que ser humilde e submeter-se não é sinônimo de fraqueza ou desvalor (cabe lembrar que não há qualquer hierarquia dentro da Trindade!):

Em Mateus 11.29 Jesus se apresenta como manso e humildade;

Em Filipenses 2, Ele é aquele que se despiu de toda a Sua glória para ser servo;

Em 1 Coríntios 11.3, Mateus 26.42 e 1 Coríntios 15.28, vemos a submissão total de Cristo a Deus Pai, seu “cabeça”.

            O mundo sem Deus não quer apenas confundir o roteiro e zombar dos papeis de homens e mulher. O mundo sem Deus quer abolir qualquer referência ao próprio Deus, seu papel na salvação, sua glória no dia-a-dia. Quer manchar Seu caráter e substituir conceitos de liderança por despotismo; coragem por inconsequência; humildade, por fraqueza; submissão por passividade; gentileza e generosidade por insensatez; docilidade por falsidade; truculência por espontaneidade; abuso por força; agressividade por conquista.

            Num mundo assim, seguir a direção de Deus para com a sua feminilidade não pode ser mais revolucionário. Viver para Deus, amar sua família (seja casada ou solteira) e se importar com os pobres não apenas te ajuda a reafirmar sua identidade e a realizar-se completamente como mulher, mas também torna mais belas as cores do quadro que você é – torna mais brilhante e evidente quem é o Deus Santo e Poderoso, num mundo decaído. Assim como você busca a santidade a cada dia, errando e aprendendo, lutando e vencendo, busque também ser uma mulher como Ele quer que você seja. Busque ser dócil, generosa, paciente, gentil, amorosa, mansa, trabalhadora, hospitaleira, diligente. Você revela Deus assim! Encoraje, admire e abra espaço para a liderança servil masculina, seja uma irmã e uma amiga para os homens da sua vida, cultive a atitude de que a maternidade é algo nobre, cuide de sua beleza exterior e preze ainda mais pela interior, ensine e cuide de outras mulheres. Comece uma revolução.

            Feliz Dia Internacional da Mulher para você, criada por Deus de modo tão maravilhoso!

 

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[1] HARRIS, Joshua. Garoto Encontra Garota – corte, namoro e casamento em uma discussão aberta para os tempos atuais. Belo Horizonte: Editora Atos, 2007. Pp. 106, 107.

[2] Fonte da imagem: http://epl.org.br/2015/07/23/a-legitimidade-da-identidade-de-genero-uma-perspectiva-liberal/

[3] Informações e imagem http://ggrunner.blogspot.com.br/2011/08/diferencas-anatomicas-e-fisiologicas-do.html e outros.

[4] Notícia em http://hypescience.com/encontradas-surpreendentes-diferencas-entre-a-conectividade-dos-cerebros-masculino-e-feminino/ e em http://medicalxpress.com/news/2013-12-reveals-differences-brain-men-women.html, e íntegra em http://www.pnas.org/content/111/2/823.full

[5] Citação e imagem extraídas de https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2013/12/15/diferenca-entre-os-generos-com-relacao-ao-humor-homens-bobos-e-mulheres-chatas/

[6] Imagem extraída de http://www.terra.com.br/istoe-temp/edicoes/2061/imprime133633.htm

[7] Números do Ministério da Justiça em http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/arquivos/plano-diretor/anexos-plano-diretor/populacao_carceraria.pdf/view

[8] Estudo abrangente em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4088

[9] Notícia e comentário em https://padrepauloricardo.org/blog/documentario-expoe-farsa-do-genero-na-noruega

[10] http://ggrunner.blogspot.com.br/2011/08/diferencas-anatomicas-e-fisiologicas-do.html

[11] EGGRICHS, Emerson. Amor e Respeito – o que ela mais deseja, do que ele mais precisa. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

[12] ORR-EWING, Amy. Por que confiar na Bíblia? – Respostas a 10 perguntas difíceis. Viçosa, MG: Ultimato, 2008. P. 41.


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